quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Cine Milton HATOUM

Cineastas buscam Amazonas de Hatoum


Com ajuda do escritor, Marcelo Gomes e Guilherme Coelho procuraram locações em Manaus e arredores
Os romances "Órfãos do Eldorado" e "Relato de um Certo Oriente" devem ser filmados a partir de 2012 Marcelo Gomes (de chapéu, à esq.) embarca coma equipe para viagem pelo rio Negro

GABRIELA LONGMAN
ENVIADA ESPECIAL A MANAUS

Milton Hatoum trabalha para terminar seu próximo romance, "O Lugar Mais Sombrio", com lançamento para 2012. Longe da sombra, porém, sua literatura se espalha, ganhando novas traduções, ensaios e releituras.



Anunciada em agosto de 2010, a transformação de "Dois Irmãos" em minissérie da Globo demora a sair -não há previsão para o início das filmagens. Enquanto isso, o cinema ocupa seu espaço. Diretor de documentários, Guilherme Coelho ("Fala Tu") viu no romance "Órfãos do Eldorado" o que buscava para sua primeira ficção.



Premiado com "Cinema, Aspirinas e Urubus", o pernambucano Marcelo Gomes encontrou Hatoum num evento e confessou: sonhava em adaptar o "Relato de um Certo Oriente". Ganhou um olhar arregalado -e o consentimento do escritor.



Mas por que filmar justamente o "Relato"? "Porque é infilmável", responde. "É um livro sobre pontos de vista. E o que é o cinema se não isso, um ponto de vista?"



Embora sejam dois projetos distintos, a literatura de Hatoum e a amizade entre os diretores transformou-os numa empreitada conjunta. Ao longo de quatro dias, a Folha acompanhou os dois cineastas por Manaus e arredores, ciceroneados pelo escritor.



Ao grupo juntaram-se Maria Camargo, corroteirista dos dois filmes, Karen Harley, montadora dos filmes anteriores de Marcelo (e codiretora de "Lixo Extraordinário"), e a assistente de direção de Coelho, Letícia Simões.



Entre fotos, anotações, perguntas e registros, cada um tentava, a seu modo, se aproximar ao máximo da paisagem "hatouniana".



Coelho, que pretende filmar em 2012, saiu em busca de possíveis locações; Gomes, ainda em primeira pesquisa e filmagens previstas só para 2013, atrás da "poética do cotidiano" da região -cheiros, cores, sabores da Amazônia recordados por Hatoum. "Não há literatura sem memória. Imaginação e memória são irmãs siamesas", lembra o autor.



A incursão passou pelo centro histórico da cidade, pelo antigo bairro dos ingleses e culminou num passeio de barco pelo rio Negro.



Há uma diferença crucial de ambientação: para o "Relato de um Certo Oriente", Gomes precisa da atmosfera de Manaus, mas precisa sobretudo de um casarão, o velho casarão de Emilie, a matriarca da família libanesa em torno da qual se estrutura o livro -uma casa é um mundo.



Para "Órfãos do Eldorado", Coelho precisa de uma pequena cidade ribeirinha, a Vila Bela do livro, onde vive a dinastia dos Cordovil, em seu palácio branco. Precisa de figurantes indígenas e algumas cenas de porto. Busca ainda um lugar perdido no tempo, a ilha esquecida no meio do rio Negro onde se esconde Dinaura, fonte de todo amor e toda ruína do narrador.



"Costelas de areia branca e estirões de praia em contraste com a água escura; lagos cercados por uma vegetação densa; poças enormes, formadas pela vazante, e ilhas que pareciam continente. Seria possível encontrar uma mulher naquela natureza tão grandiosa?", nos pergunta Hatoum nas últimas páginas de "Órfãos...".



Seria, parece responder o cinema, caminhando em rumo norte.



A jornalista GABRIELA LONGMAN viajou a convite da produtora Matizar

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