quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O Nobelizado PAMUK e a arte da ficçao


ENTREVISTA Folha de S.Paulo

'Cada vez há mais romances lidos no mundo', diz Pamuk
Otimista com o futuro do gênero literário que o levou ao Nobel, escritor turco lança livro sobre a arte da ficção
O autor, que vem ao Brasil para o Fronteiras do Pensamento, lança "O Romancista Ingênuo e o Sentimental"

Orhan Pamuk perdeu a conta de quantos já lhe perguntaram, comovidos: "Kamal é você?"
Kamal é o sujeito que remói um amor perdido em "O Museu da Inocência", o romance mais recente e o primeiro depois do Nobel.
"'Kamal é você?' é a pergunta de um tipo de leitor ingênuo, que não se dá conta de que a escrita é artifício", o escritor turco lembra à Folha, por telefone, de Nova York.
O contrário do ingênuo é o reflexivo, ou sentimental, para usar a definição do poeta alemão Friedrich Schiller no século 18.
Um tipo não deve, porém, substituir o outro. O ideal é, recomenda Pamuk, que coexistam num mesmo leitor. "Aprecie o livro, como faz o ingênuo, e reflita sobre por que o aprecia, como faz o sentimental."
Não só a leitura se enquadra nessa tipologia, como a própria construção de romances, como demonstra em "O Romancista Ingênuo e o Sentimental", novo volume que reúne as conferências proferidas em 2008 como escritor visitante em Harvard.
Pamuk, usando a pintura como metáfora e fio condutor, explica como os grandes romances são construídos para fazer o leitor se sentir dentro, e não fora da paisagem, e os leva a buscar o "centro secreto", o sentido.
Há romances que, para um leitor não especializado, é difícil de entrar, certo? "Esse é um eterno problema da literatura. Não há como solucionar. Um escritor tem o direito, se quiser, de escrever como James Joyce. Mas mesmo os irlandeses que nunca leram Joyce sabem que é importante e o respeitam".
Caiu o interesse pela ficção, como certa vez previra Gore Vidal, para quem romances vão se tornar restritos como a poesia se tornou?
"Isso é mentira. Os romances não estão morrendo", reage Pamuk. "Cada vez há mais romances escritos e lidos no mundo. É o que escuto de meus editores na China, na Índia. Demograficamente, há bilhões de pessoas que só agora começam a ter acesso aos romances."
Pamuk é também mais otimista que seu colega de Nobel, Mario Vargas Llosa, que esta semana, na Feira do Livro de Guadalajara, disse temer a banalização da literatura pela internet. "A internet nos faz ler mais. E torna a compra de livros mais barata. Vão mudar coisas, mas o romance não vai desaparecer."
JOSÉLIA AGUIAR
COLUNISTA DA FOLHA
O ROMANCISTA INGÊNUO E O SENTIMENTAL
AUTOR Orhan Pamuk
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 34 (152 págs.)
TRADUÇÃO Hildegard Feist

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